Atividades Espirituais-Oferendas,Rituais e Benzimentos Sagrado
As oferendas a Exu são um pilar fundamental nas religiões afro-brasileiras, representando um ato de comunicação, respeito e reciprocidade com essa divindade tão importante. O "poder" da oferenda não reside em um passe de mágica, mas sim na intenção, na fé e no entendimento do papel de Exu na cosmologia dessas religiões.
Quem é Exu?
É crucial entender que Exu não é o diabo ou uma figura maligna, como muitas vezes é erroneamente sincretizado com o Satanás do cristianismo. Essa é uma visão equivocada que não corresponde à sua essência nas religiões de matriz africana.
Exu é o Orixá mensageiro, o guardião dos caminhos e encruzilhadas. Ele é a energia do movimento, da comunicação, da transformação, do dinamismo e da abertura. É ele quem faz a ligação entre o mundo dos Orixás e o mundo dos humanos, levando as mensagens e os pedidos. Ele também está ligado à vitalidade, à sexualidade e à materialidade da vida.
O Propósito das Oferendas a Exu
As oferendas a Exu servem a diversos propósitos:
* Abertura de Caminhos: Exu é invocado para remover obstáculos, abrir portas e trazer novas oportunidades em diversas áreas da vida, como finanças, trabalho, amor e saúde.
* Proteção: Ele é um guardião que afasta energias negativas, inveja, feitiçarias e larvas astrais.
* Comunicação e Mediação: Como mensageiro, a oferenda é uma forma de estabelecer e fortalecer a comunicação com ele, para que ele possa levar os pedidos aos outros Orixás e trazer suas bênçãos.
* Gratidão e Respeito: Oferecer a Exu é um ato de reconhecimento e gratidão pela sua força e atuação em nossas vidas.
* Equilíbrio e Prosperidade: Ele é associado à riqueza material e ao bem-estar emocional, e as oferendas podem auxiliar na busca por esses aspectos.
Como as Oferendas Funcionam?
O conceito de "presente e contra-presente" é central na relação com Exu. Ao fazer uma oferenda, o devoto oferece algo material em troca de um auxílio espiritual. Essa troca simbólica fortalece o vínculo e a atuação de Exu na vida da pessoa. A oferenda não é uma barganha, mas sim um gesto de fé e comprometimento.
O que Geralmente é Oferecido a Exu?
As oferendas a Exu são variadas e dependem da linha de Exu (Exu do Cemitério, Exu da Encruzilhada, etc.) e da tradição do terreiro. No entanto, alguns itens comuns incluem:
* Bebidas: Cachaça, aguardente, vinho, champanhe.
* Fumo: Charutos, cigarros.
* Comidas: Farofa de dendê, bife acebolado, feijoada, milho torrado, frutas (como manga e abacaxi).
* Velas: Vermelhas e pretas são as cores associadas a Exu.
* Elementos da natureza: Flores, folhas, terra de encruzilhada (com respeito e sabedoria).
As oferendas são geralmente realizadas em locais específicos, como encruzilhadas, cemitérios (para Exus da linha do cemitério), ou em locais dedicados a ele dentro do terreiro. É fundamental que a oferenda seja feita com fé, respeito e a orientação de um pai ou mãe de santo experiente, que poderá indicar a oferenda correta para a sua necessidade e para o Exu específico com o qual você está se conectando.
Considerações Importantes
* Intenção: Mais do que os itens materiais, a intenção e a fé do devoto são o que realmente conferem poder à oferenda.
* Respeito: O trato com Exu exige respeito, seriedade e um entendimento claro de sua função e natureza.
* Orientação: Para evitar equívocos e garantir que a oferenda seja feita de forma adequada e eficaz, é sempre recomendável buscar a orientação de um sacerdote ou sacerdotisa .
* Consequências: Acredita-se que, se a oferenda for feita sem fé ou com intenções negativas, ela pode não surtir o efeito desejado ou até mesmo ter um resultado contrário.
Em suma, o poder da oferenda a Exu reside na capacidade de estabelecer uma ponte de comunicação com o divino, de ativar as forças da natureza para a abertura de caminhos e proteção, e de manifestar a fé e a gratidão do devoto. É um ato de conexão profunda com uma das energias mais dinâmicas e transformadoras do panteão afro-brasileiro.
Axé ✨️
Edilene Lima
Agradar as entidades nas religiões de matriz africana, vai muito além de um simples "troca-troca" ou de uma tentativa de "comprar" favores. É um ato de respeito, fé e alinhamento com as forças da natureza e do divino. Entender o "porquê" passa por compreender a cosmologia dessas religiões e o papel dessas entidades.
O Que São as Entidades?
Antes de mais nada, é importante diferenciar as entidades dos Orixás. Os Orixás são divindades ancestrais, energias primordiais da natureza (como Exu, Iemanjá, Oxóssi, etc.). As entidades, por sua vez, são espíritos desencarnados que já viveram na Terra e que, após sua passagem, escolheram ou foram direcionados a trabalhar na luz, auxiliando os seres humanos. Em Umbanda, por exemplo, temos Pretos Velhos, Caboclos, Pombagiras, Exus (como entidades, não Orixás), Crianças, entre outros.
Os Pilares do Ato de Agradar as Entidades
Agradar as entidades se baseia em alguns princípios fundamentais:
* Gratidão e Reconhecimento: Assim como agradecemos a alguém que nos ajuda, agradar as entidades é uma forma de reconhecer e agradecer pelo auxílio que elas nos oferecem. Elas atuam como guias, protetores e conselheiros, desvendando caminhos e amenizando dores.
* Fortalecimento do Vínculo: Ao oferecer algo de bom grado, com fé e intenção, você fortalece o laço energético com a entidade. Essa conexão mais forte facilita a comunicação e a atuação dela em sua vida. É como cultivar uma amizade: quanto mais você investe nela, mais ela se torna sólida e recíproca.
* Reciprocidade Energética: O universo se move por trocas energéticas. Quando você oferece algo (seja uma vela, uma flor, um alimento específico) com amor e respeito, você está emanando uma energia positiva que retorna para você de diversas formas. É uma via de mão dupla onde o dar e o receber se complementam.
* Alinhamento e Sincronia: Ao "agradar" as entidades, você se coloca em sintonia com a vibração delas. Cada entidade tem sua própria energia e área de atuação. Ao oferecer o que lhes é de agrado, você demonstra que compreende e respeita essa energia, abrindo-se para receber suas bênçãos e orientações.
* Manutenção da Atuação Espiritual: As entidades, por estarem trabalhando em prol da caridade e do auxílio humano, demandam uma certa "energia" para se manifestarem e atuarem. As oferendas e agrados, nesse sentido, podem ser vistos como um combustível energético que permite a elas continuar seu trabalho espiritual. Não é que a entidade "precise" comer ou beber, mas os elementos usados na oferenda servem como condensadores de energia.
* Tradição e Ritualística: As oferendas e agrados fazem parte da liturgia e da tradição ancestral dessas religiões. Elas representam um elo com os antepassados, com a sabedoria acumulada ao longo dos séculos e com os ritos que mantêm a fé viva. Seguir essas práticas é também uma forma de honrar a cultura e a espiritualidade que as precederam.
* Disciplina e Fé: O ato de preparar e levar uma oferenda, mesmo que simples, exige disciplina, dedicação e, acima de tudo, fé. Essa jornada, por si só, já é um processo de autoconhecimento e de fortalecimento da crença.
Não é Suborno, é Respeito
É fundamental desmistificar a ideia de que agradar entidades é uma forma de "suborná-las" para obter algo. Essa visão deturpada ignora a profundidade espiritual do ato. As entidades não são movidas por interesses mesquinhos; elas trabalham com a Lei Maior e a Lei do Karma, buscando o bem e o equilíbrio. Se um pedido não está alinhado com o caminho da pessoa ou com a justiça divina, mesmo com oferendas, ele não será atendido.
A essência está na devoção sincera e na intenção pura. É um gesto de amor e reconhecimento por aqueles que dedicam sua existência espiritual a nos guiar e proteger em nossa jornada terrena.
Você já teve alguma experiência ou curiosidade sobre como uma oferenda é feita?
Em muitas tradições de matriz africana, como o Candomblé e algumas linhas da Quimbanda, o sangue (muitas vezes chamado de "ejé" em iorubá) é considerado um elemento de extrema importância e poder. Ele é visto como o veículo do axé, a força vital e sagrada que anima o universo e tudo o que nele existe.
Para Pombagiras e Exus, assim como para os Orixás, o uso do sangue em rituais e oferendas pode ter diversos significados e finalidades:
*Reativação e fortalecimento do axé*
O sangue de animais sacrificados ritualisticamente é considerado um elemento fundamental para recarregar, ativar e fortalecer o axé dos assentamentos (objetos sagrados que representam a presença da entidade), dos instrumentos rituais e até mesmo dos próprios médiuns e filhos de santo. É uma forma de nutrir e vitalizar a energia dessas entidades, permitindo que elas atuem com mais força e eficácia.
*Conexão e comunicação*
O derramamento de sangue pode ser um meio de estabelecer uma conexão profunda entre o mundo material e o espiritual. Através do sangue, acredita-se que as entidades recebem a energia necessária para se manifestar e interagir com os praticantes, facilitando a comunicação, a realização de pedidos e a resolução de problemas.
Alimento e sustento energético
Em algumas concepções, o sangue é visto como um "alimento" energético para as entidades. Não se trata de uma alimentação física, como a nossa, mas sim de uma forma de sustentá-las energeticamente, permitindo que elas mantenham sua vitalidade e poder para atuar no plano terreno.
*Quebra de demandas e limpezas profundas*
Em trabalhos mais específicos, o sangue pode ser utilizado em rituais de quebra de demandas, descarrego e limpezas energéticas profundas. A força contida no sangue seria capaz de cortar energias negativas, afastar obsessores e purificar ambientes e pessoas.
*Consagração e firmeza*
O sangue também é usado para consagrar objetos, amuletos e assentamentos, tornando-os imantados com a energia da Pombagira ou Exu. Essa consagração confere "firmeza" e poder aos elementos, tornando-os aptos a serem utilizados em trabalhos espirituais.
Importante observação sobre a Umbanda
É fundamental ressaltar que, embora presente em algumas linhas da Quimbanda e no Candomblé, o sacrifício animal e o uso do sangue não são práticas comuns na maioria das vertentes da Umbanda. Na Umbanda, a tendência é o uso de elementos mais "leves" e simbólicos nas oferendas, como frutas, flores, bebidas, velas e outros itens que carregam o axé da natureza sem a necessidade de derramamento de sangue.
As diferentes visões sobre o uso do sangue refletem as distintas filosofias e fundamentos de cada linha religiosa dentro das religiões de matriz africana. O importante é o respeito aos preceitos e tradições de cada terreiro e a compreensão do simbolismo e da finalidade por trás de cada prática.
*EDILENE DE LIMA*
Castelo Rainha Maria Padilha

